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Neide Prates Galindo

Até os 20 anos de idade, Neide morou em uma chácara com seus pais, suas três irmãs e quatro irmãos; e logo começou a trabalhar aos 14 anos no LeFem (Legião Feminina de Marília). Aos 21 anos, teve seu primeiro contato com o IMES, hoje USCS, ao fazer uma entrevista arranjada pela prima e foi selecionada para a vaga. Com o apoio dos pais, mudou-se para São Paulo e foi trabalhar com a Vera Lúcia Basso na contabilidade. Durante sua trajetória pela USCS, foi promovida e trabalhou como recepcionista na diretoria e depois como secretária do reitor; estudou Administração na USCS e ao fim da sua graduação, deu a luz a sua única filha.


Imagem do Depoente
Nome:Neide Prates Galindo
Nascimento:01/03/1966
Gênero:Feminino
Profissão:Secretária
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:Marília (SP)

TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO DE NEIDE PRATES GALINDO EM 28/10/2016
Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Neide Prates Galindo, 50 anos.
São Caetano do Sul, 28 de outubro de 2016.
Entrevistador: Luciano Cruz.
Equipe Técnica: Indefinida.
Transcritor: Luis Carlos dos Santos Filho.


Pergunta:
Eu queria que você começasse falando o nome completo, local e data de nascimento, por favor.

 

Resposta:
É Neide Prates Galindo, eu nasci em Marília, no dia primeiro de março de 1966.

 

Pergunta:
Pô Neide então, eu queria começar falando exatamente dessas suas lembranças de infância né. Como que era, sua família... sua casa... como que era esse conviver em Marília.

Resposta:
A minha infância assim, foi num lugar mágico, maravilhoso. Em Marília nós morávamos numa chácara, meu pai comprou essa chácara eu tinha um ano e dois meses, e morei lá até os vinte e um anos. Então era um lugar que não tinha energia elétrica, não tinha água. Então nós brincávamos de caçar vagalume, a nossa sobremesa depois que a gente almoçava era ir no quintal olhar um pé de frutas. E foi muito legal porque eu via o meu pai desenvolvendo aquele terreno imenso num lar muito gostoso. Então no fundo dessa chácara tinha um ‘buracão' que a gente chamava, tinha argila. Então na época de chuva a gente se divertia muito, tomava muito banho de chuva. Então foi um local assim... se a gente ver assim, com dificuldades né, mas para mim foi muito mágico, me fez assim muito bem, muito feliz. E até hoje eu sinto falta. Eu moro em apartamento, eu acordo primeira coisa que eu faço de manhã é abrir todas as cortinas, todas as janelas, porque eu tenho necessidade de ver o verde, de ver o sol, de ver o céu entendeu, porque a minha vida toda eu fiz isso.

 

Pergunta:
Como que era o núcleo familiar nessa época, na casa morava você... [concomitância de falas].

 

Resposta:
Morava eu, meu pai, minha mãe, nós éramos em oito irmãos, quatro homens e quatro mulheres né, e era um time, quatro contra quatro. Eu lembro que nessa casa, porque quando o meu pai comprou lá essa chácara era só um matagal, então ele foi capinando, e aí com muita dificuldade ele construiu uma casa pequena né, então tinha dois quartos, tinha o quarto deles que a gente falava de quartinho, e o quartão, que onde dormíamos todos os filhos né. Então tinha a beliche, tinha a cama de casal, era um quarto enorme mesmo e todos nós dormíamos lá. Então era muito gostoso né. E a gente, por exemplo, sempre tive muita afinidade, principalmente com os meninos que eu sempre fui moleca. E eu... só... nós éramos em quatro irmãs, hoje uma faleceu, e quatro homens. Então quatro, quatro né. E principalmente com essa minha irmã que faleceu eu tinha muita afinidade com ela, mas eu era moleca, então eu gostava de subir em árvore, das quatro meninas, eu sou a única que anda de bicicleta, e de moto, e de mobilete, e tenho vários arranhões no corpo de pular cerca né. Então era muito gostoso, assim... viver em família né. Hoje por exemplo eu vejo... eu já acostumei, mas eu tenho uma filha só, e às vezes eu falo: ‘Nossa, tadinha... viver assim sozinha deve ser difícil né...' E aí tentei também facilitar um pouco a vida dela, por causa dessa minha re... [entrevistada se corrige] dessa minha experiência.

 

Pergunta:
Como que foi esse início da vida escolar, ainda é... ainda em Marília.

 

Resposta:
Nós estudávamos numa escola, eu lembro bem desse termo. Elas são alunas... como que era... da bolsa acho que falava... porque era uma escola que eu acho que era paga, era do estado, mas era uma escola muito conceituada em Marília, e nós éramos bolsistas. O que era bolsista, a gente recebia todo o material escolar, o uniforme né. É... eu gostava um pouco dessa escola sim, mas eu me sentia meio... [5'] porque fugia muito daquele padrão de classe entre nós, que éramos alunos da caixa e os outros que tinham um outro padrão de vida, então desde o lanche, desde a vida como cada um vivia né. Mas eu vivi nessa escola acho que um ou dois anos só, depois transferi para uma outra escola também lá no bairro. Uma escola também muito gostosa. Ah... foi muito boa, assim eu não posso reclamar da minha vida, acho que eu tenho essa característica assim de guardar coisas boas sabe, não tenho essa coisa de ficar... eu acho que os tempos difíceis não foram difíceis, eu acho que foram galgadas né.

 

Pergunta:
Você disse que se ficou em Marília até os vinte e um anos... [concomitância de falas].

 

Resposta:
Até os vinte...

 

Pergunta:
Sempre na mesma casa ou houve mudanças?

 

Resposta:
Nessa mesma casa. Até a dois anos atrás a minha... eles moravam ainda nessa chácara. E até hoje, até hoje... a chácara está lá ainda, minha mãe agora saiu porque a dois anos meu pai faleceu, e a minha irmã... [entrevistada se corrige] a minha mãe saiu dessa chácara né, que a minha irmã comprou uma casinha perto da minha mãe, perto da casa dela, aliás, e... mas essa chácara está lá ainda. E eu tenho muita raiz, eu vou... quando a minha mãe estava mudando inclusive, que o pessoal estava precisando de ajuda lá para fazer a mudança, eu não quis ir, eu não quis acompanhar porque eu falei: ‘Gente, eu não quero ver aquela casa vazia, aquela casa, aquele terreno para mim tem vida, tem história né.' Inclusive eu passei, eu acho que passei isso para minha filha, que a minha filha fala: ‘Mamãe, se eu tivesse dinheiro eu compraria aquela chácara. Eu não deixaria vender.' Porque eu não sei, acho que essa história mesmo que a gente tem de vida lá.

 

Pergunta:
Tem alguma dessas histórias que vem agora a sua memória? Quando você fala desta casa, de coisas vividas nessa casa...

 

Resposta:
Então a minha... a minha história de lá realmente é isso. É tomar chuva no quintal, era brincar de barro, fazer os brinquedos com aquela argila que tinha naquele buracão, era caçar os vagalumes à noite. A gente colocava numa caixinha de fósforo assim porque não tinha energia elétrica, era lamparina né. Então eu acho que eu gosto muito de natureza. Eu prefiro mil vezes um mato do quê uma praia. Eu acho que isso faz parte de mim.

 

Pergunta:
Além das brincadeiras que você citou numa casa com oito filhos né. Você já tinha alguma responsabilidade, como que... como que foi esse seu amadurecimento até chegar, tanto nas responsabilidades dentro de casa mesmo, mas também em termos de mercado de trabalho.

 

Resposta:
Olha, eu comecei a trabalhar muito jovem, muito cedo mesmo, porque meu pai imagina, com oito filhos ele conseguia trazer o alimento para casa né, então a gente às vezes vivia ou de doação, ou da criatividade da minha mãe em fazer roupa, tudo né. Então fui muito cedo para o mercado de trabalho, trabalhei de babá, trabalhei de secretária de dentista, trabalhei em farmácia, trabalhei em imobiliária né. E eu sempre tive um espírito muito aventureiro, eu não consigo ficar muito parada num lugar, isso é da minha personalidade né. Então em casa a gente sempre ajudou né, sempre ajudou. Ajudou a pagar uma conta, ajudava a fazer mercado, ou pagava uma energia elétrica. E assim, a relação que meus pais tinham também de nos passar essa responsabilidade, eu acho que me fez muito bem né, de você ter que ajudar, você ter que pagar suas contas, você honrar o seu nome. Eu acho que isso me fez muito bem, me fez como pessoa né.

 

Pergunta:
Você citou uma série de trabalhos, de funções que você desempenhou. Você podia falar um pouquinho mais sobre a primeira, quer dizer, como foi conseguir esse primeiro emprego e o que mudou na sua vida depois que você começou a trabalhar.

 

Resposta:
Então, lá em Marília tem... eu não sei se hoje existe né, mas eu tinha o que, treze, catorze anos eu acho, chamava LEFEM, Legião Feminina de Marília. Então nós ficávamos um pouco nessa legião, tinham cursos, orientações. Tinha curso de culinária, educação sexual, datilografia naquela época. E meio período a gente trabalhava né, [10'] acho que o primeiro fui trabalhar num consultório dentário, e também numa farmácia, porque esse dentista a esposa tinha uma farmácia, então eu fazia essa meia ponte. E a noite eu estudava, sempre foi essa vida. Aí trabalhei um tempão nessa farmácia e nesse consultório. Daí com dezessete pra dezoito, é... porque a gente podia ficar lá até os dezoito anos, então registro mesmo eu só fui ter aos dezoito anos em 1984.

 

Pergunta:
E as amizades dessa época, se tem alguma história... [concomitância de falas].

 

Resposta:
Tem, tem...

 

Pergunta:
Alguma coisa...

 

Resposta:
Nossa eu trabalhava... ah! também trabalhei numa imobiliária, e tinha uma amiga lá que na verdade tinha alguns laços assim de família porque o pai dela... a irmã do pai dela era casado com a minha tia então... mas era muito minha amiga né, então nós íamos tomar lanche junto, ia na pracinha... conversava né. E na chácara nós também recebíamos muitos amigos né. A gente fazia parte de grupos de jovens, então o pessoal ia pra lá chupar poncã, manga, comer banana, levar violão e a gente passava tardes ali com aquele grupo de jovens, de amigos, batendo papo, conversando...

 

Pergunta:
Você falou dessa questão da sua relação com a terra né... com o campo...

 

Resposta:
Com o campo...

 

Pergunta:
Tinha plantações?

 

Resposta:
Tinha, tinha...

 

Pergunta:
O que você lembra de trabalhar, de ver ali...

 

Resposta:
Então meu pai plantava. Meu pai assim, eu acho que quando eu era criança tinha tudo quanto é tipo de fruta, tinha abacate, tinha uva, tinha maçã, tinha morango, tinha banana, tinha mandioca, tinha alface, limão né. Então na minha memória tem muito isso da minha mãe falar: ‘Véio, vai moer café pra mim que o pó está acabando na lata.' ‘Véio, vai pegar limão para mim.' Então a questão da gente sair correndo para o mercado lá não tinha. Era: ‘Véio, vai lá pegar.' Então essa chácara assim é muito, muito enraizada na minha vida assim, muito...

 

Pergunta:
E como foi essa mudança? Essa transição quer dizer...

 

Resposta:

Então, eu estava te falando que eu sou uma pessoa muito ousada né. Eu tenho dificuldade com rotina. Eu tenho dificuldades com coisas que são todo dia a mesma situação. E a minha prima, que é minha prima de primeiro grau que é a Silvinha, esteve em Marília em 1987 e eu me lembro como hoje, lá na chácara sentada na porta da sala e ela contando de São Paulo. Imagina... eu tinha vinte e um anos e eu achava São Paulo coisa de outro mundo né. Aí eu falei pra ela: ‘Nossa, se eu conseguisse um emprego em São Paulo eu ia embora.' ‘Ela falou: ‘Ah! Duvido...' Eu falei: ‘Duvida?' E comigo é assim, não podia apostar entendeu. Ela falou: ‘Olha que eu vou arrumar...' ‘Arruma para você ver se eu não vou...' E ela trabalhava em São Paulo com o professor Marco Antônio que tem uma empresa de laboratórios lá em São Paulo. Ela era secretária dele naquela época da Ibram né, e ela veio embora, passou. Eu estava estudando... eu estava trabalhando... eu estava namorando... estava com a minha vida tranquila em Marília, mas se chegasse para mim naquela época e falar: ‘Ó Neide, tem um emprego bom para você no Japão.' Eu ia embora... não tinha nada que me segurasse, não tinha medo né. E aí ela veio embora e passou. Continuei trabalhando, estudando, coisa e tal. Aí um dia toca o telefone lá no consultório que eu trabalhava, era ela... aí ela me disse: ‘Neidinha, sabe aquela aposta que você falou comigo? Eu falei: ‘É...' ‘Então... tem uma entrevista para você...' Aquilo me deu um gelo, você não tem noção... eu falei: ‘Sei...' ‘E aí, você vem ou não vem?' Eu falei: ‘Eu estou indo, quando que é?' ‘Aí... tal dia...' ‘Pois eu vou...' [15'] Aí vim para casa dela, vim com a minha mãe. Minha mãe não deixou eu vim sozinha, lógico né. Inclusive o professor Marco Antônio passou na casa da minha tia, me pegou, me deu carona até o IMES, Instituto Municipal de Ensino Superior ainda, tinha só um prédio lá na avenida Goiás, tinha a estátua de São Pedro. Aí vim, fiz uma entrevista. Fiz um teste de datilografia. Fiz uma... minto, só fiz um teste e entrevista, e fui embora. E também fiz um teste lá no escritório de contabilidade na rua Vergueiro. E os dois não me deram resposta naquele momento para o meu alívio, porque no fundo, no fundo eu não estava preparada, eu achava... e voltei para Marília.

 

Pergunta:
A casa da sua prima, onde que era?

 

Resposta:
A casa da minha prima era na Estrada das Lágrimas em...

 

Pergunta:
Em São Caetano...

 

Resposta:
Quase pertinho de São Caetano, ali em Campo... não, São João Clímaco chamava, era uma travessinha até a Estrada das Lágrimas, passou a ponte ali, do lado esquerdo, lembro até hoje a ruinha. Aí fui embora para Marília, voltei para minha vida normal, ninguém nunca mais me liga, nada. Passou acho que umas duas, três semanas. Um belo dia, o IMES me liga... ‘Oi Neide é o seguinte: lembra que você fez um teste aqui e você foi aprovada...' Eu falei: ‘Sei...' Ela falou: ‘Então, você pode começar?' Eu falei: ‘Posso... posso...' ‘Tá bom.' Aí cheguei em casa, falei para minha mãe e pro meu pai, e meus pais graças a Deus, eles sempre nos davam muita liberdade né. Eles sempre diziam o seguinte: ‘Pensa bem para não se arrepender. Faça, porque amanhã você não vai dizer: ‘Ó, você não fez isso, você não fez aquilo, porque papai e mamãe não deixou.' Aí teve lá... meus pais conversaram. Meu pai não queria que eu viesse, minha mãe falou que ele não podia impedir né, e eles como sempre, entravam num consenso e nos traziam uma resposta em conjunto, isso pra mim sempre foi muito importante. Aí ele falou: ‘Então você vai, mas você leva duas malas, uma para você ir, outra para você voltar. Eu acho que você não devia ir, mas vai, se não der certo sua casa está aqui, nós estamos aqui, a gente espera.' Aí vim para São Paulo no dia 11 de julho de 1987, peguei todas as minhas tralhas e vim para São Paulo, quando eu cheguei na rodoviária em São Paulo que eu olhei, eu falei: ‘Gente do céu...' E aí a minha prima tinha conseguido um pensionato pra mim na rua Vergueiro também em São Paulo na Saúde. Aí eu peguei todas às minhas malas e fui para esse pensionato, porque eu ia morar lá e vinha trabalhar no IMES naquela época. Eu ia entrar uma e trinta e seis, e saía às onze da noite. Quando cheguei lá no pensionato à mulher falou: ‘Ah, mas aqui não pode entrar depois das vinte e uma.' Eu falei: ‘E agora?' Aí _______________, acabei indo pra casa da minha tia, morei com ela isso foi em julho... julho, agosto, setembro, outubro, novembro, até dezembro de 1987 eu morei na casa da minha tia e vinha trabalhar no IMES, imagina... eu ganhava super pouquinho. E aí foi uma época muito difícil, porque eu ganhava pouco, aí tinha meu orgulho de não querer voltar para Marília, tinha meu orgulho de manter firme na minha prima, porque eu tinha feito uma aposta com ela de que eu vinha né, e aí a vida vai nos levando.

 

Pergunta:
Como era aquele IMES que você encontrou aqui em 1987?

 

Resposta:
Ah, era uma delícia. Assim... às pessoas, eu me encantei muito com as pessoas no início. Lógico que uma pessoa em 1987 com vinte e um anos vinda do interior. A vida no interior, não sei se hoje é normal, mas antigamente existia uma diferença, nós éramos assim... mais bobos, mais inocentes né, então... mas eu gostava muito, eu achava que todo mundo que me tratava muito bem lá me amava, era meu amigo né. [20'] Então gostava muito do IMES. E trabalhei, fui trabalhar com a Vera, que a gente trabalhava na contabilidade. Naquela época, contabilidade e atendimento ao aluno era tudo junto. Eu falei: ‘Não vai dar certo aqui.' Três meses que estava lá já, três meses eu estava trabalhando na contabilidade porque eu fazia técnico de contabilidade em Marília né, então eu achava que se eu tivesse um setor de contabilidade estava tudo resolvido. E aí comecei há trabalhar três meses lá, eu falei: ‘Não vai dar certo.' Aí pedi demissão, porque o escritório de contabilidade lá me chamou para ir trabalhar lá e ia aumentar meu salário, eu falei: ‘Ótimo, vou trabalhar durante o dia, vou trabalhar na minha área e não vou ficar aqui porque não está dando certo.' Mas o IMES era muito pequenininho e todo mundo conhecia naquela época, o professor Silvio Minciotti era o diretor e o Moacir Rodrigues era o vice, e o professor Marco Antônio tinha o cuidado de manutenção, segurança essas coisas. Aí o professor Moacir quando ficou sabendo que eu ia embora da USCS me chamou e falou: ‘Neidinha, estou sabendo que você quer nos deixar, o que está acontecendo?' ‘Ah professor, não vai dar certo ali. Eu me conheço, não vai dar certo.' Aí ele falou: ‘E se a gente chamar você pra trabalhar aqui com a gente na diretoria, você vem?' ‘Ah... eu vou.' Eu falei: ‘Não, mas tem a questão do salário também...' Porque em 87 a USCS, o IMES naquela época não era um órgão público, então podia se contratar, demitir, promover né, não teria problema. Aí ele me promoveu, cobriu a oferta que eu ia ter no outro escritório e eu acabei indo então para diretoria trabalhar como recepcionista no IMES né, que era IMES naquela época e lá eu comecei. Mas eu sempre... até hoje sempre gostei muito de trabalhar, fazer as coisas e tem aquela: ‘Quanto mais a pessoa faz, mais dê a ela'. Então teve uma época que eu já estava cuidando sozinha de dez coordenadorias, aí me tiraram da recepção, me colocaram em uma outra sala né, isso eu acho que já em 89, 90... aí depois estudei, me formei também no IMES.

 

Pergunta:
Qual curso você fez?

 

Resposta:
Eu fiz administração, me formei em 1996.

 

Pergunta:
Então me explica como foi à decisão de fazer contabilidade lá ainda em Marília, e porque a opção por administração depois aqui na USCS.

 

Resposta:
Então, quando eu fazia lá em Marília eu não terminei porque lembra, eu falei que estava estudando né, aí quando eu cheguei aqui que eu procurei um curso técnico, eu precisava de manhã porque eu trabalhava tarde e noite naquela época né. E eu não consegui, só tinha a noite, aí não consegui. Eu acho que fiquei não sei se foi um ou dois anos parado, aí foi que eu consegui mudar meu horário. Aí eu fiz o último ano do técnico de contabilidade no Ateneu, aqui em São Caetano. Aí terminei o técnico em contabilidade, e meu sonho na verdade sempre foi fazer o curso de direito né, então eu prestei administração na USCS e prestei direito na faculdade de São Bernardo, só que naquela época o vestibular eram dois dias, então eu prestei um dia a noite na faculdade de São Bernardo direito, prestei no sábado na USCS em administração e eu fui assim pelo gabarito, eu tinha ido muito bem nas duas, então no domingo eu tinha que optar se eu fazia São Bernardo direito, ou fazia na USCS administração. O que me pesou a bolsa no IMES, eu vou ter cem por cento de bolsa e lá em São Bernardo eu vou ter que me deslocar, pagar a faculdade, aí optei pelo IMES, fiz administração no IMES, mas ainda não perdi a vontade de fazer curso de direito, ainda não. Eu estou querendo pro ano que vem aí fazer esse curso, porque ainda está aqui dentro. [25'].

 

Pergunta:
Neide, queria que você falasse um pouquinho mais do que você tem ainda de lembrança né. O que vem a sua memória desta adaptação, aquela menina do interior que estava acostumada com aquela vida, aquela casa...

 

Resposta:
Aquela casa...

 

Pergunta:
Chegando na cidade grande, chegando em São Paulo, e como que foi essa adaptação...

 

Resposta:
Olha, foi um misto assim de... eu ficava encantada, ao mesmo tempo muitas vezes com medo, muitas vezes com saudade da minha família né, porque eu era muito assim apegada a minha família, mas sempre fui muito teimosa né, então eu falava: ‘Não, eu não vou desistir. Eu vou conseguir, vou conseguir, vou conseguir.' Então foi muito difícil, porque eu ganhava durante muito tempo, eu ganhava muito pouco né, mas tinha esses benefícios, eu gostava muito de trabalhar no IMES, eu gostava muito do meu trabalho, sempre gostei, gostava das pessoas e acho que isso, você vai amadurecendo, você vai crescendo, lógico, a minha raiz, a minha raiz está lá não tem jeito, mas você vai crescendo, você vai amadurecendo né. Você vê, eu terminei a faculdade em 96, 97, é... 97 eu peguei meu diploma, aí eu falei: ‘Bom, vou descansar esse ano né, o ano que vem eu vou fazer uma pós, porque eu já tinha terminado administração.' Em 98, estou grávida... aí eu falei: ‘Epa, agora a minha prioridade é outra.' E a gente muda muito por causa de um filho né, acho que assim... a responsabilidade... vou me emocionar lógico... [entrevistada se emociona].

 

Pergunta:
Um pouquinho d'água?

 

Resposta:
Quero...

 

Pergunta:
Deixa eu pegar aqui.

 

Resposta:
Fala pra mim, filho é fogo né...

 

Pergunta:
Ó lá, tá vendo quando eu falo do...

 

Resposta:
Aí não vale Lu.

 

Pergunta:
Quando eu falo da banquetinha...

 

Resposta:
É, é...

 

Pergunta:
Vai ter que tomar no plástico mesmo.

 

Resposta:
Não, está bom, tá bom. Que horas são Lu...

 

Pergunta:
São dez pras quatro.

 

Resposta:
Ainda.

 

Pergunta:
Mas eu ouvi falar que você estava hoje ao meu dispor em...

 

Resposta:
Até às cinco e onze cinco...

 

Pergunta:
O reitor assinou lá.

 

Resposta:
O reitor está lá em Milão. Eu falei pra ele: ‘Ó...' Ele mandava whatsapp o dia inteiro né, aí eu falei pra ele: ‘Se a partir das seis eu não responder, não é que eu não estou trabalhando tá?'

 

Pergunta:
Aí que eu estou trabalhando mesmo, trabalhando pela memória dessa instituição.

 

Resposta:
Eu falei pra ele: ‘Ó, em virtude do meu número de inscrição e dos cinquenta anos da USCS, vou estar fazendo um depoimento lá.' Vamos lá...

 

Pergunta:
Vamos lá...

 

Resposta:
Brigada Lu. Pensei que o Lu ia trazer só a gente mas não, é ele e o cara. Vai Lu...

 

Pergunta:
Eu queria só continuar. Então você chega em 96 nessa mudança que você né, a transição primeiro para São Paulo...

 

Resposta:
Pra São Paulo.

 

Pergunta:
Transição pra trabalhar na instituição, depois se forma e acaba tendo uma gravidez, e você falou que a gravidez muda muito.

 

Resposta:
Isso...

 

Pergunta:
Eu queria que você falasse um pouco dessa mudança, quer dizer, da Neide mãe né, o que mudou?

 

 

Resposta:
Ah, mudou tudo né, porque muda financeiramente, muda sua cabeça. Eu acho que um filho é essa responsabilidade mesmo de a gente ter né. É... então a minha prioridade foi outra, então a partir daí, apesar de gostar muito do que eu faço, naquela época eu trabalhava, nessa época a USCS era centro universitário se eu não que engano, e era secretária dos pró reitores né, e eu trabalhava tarde e noite. E ao voltar da minha licença maternidade eu cheguei e falei: ‘Professor, eu não posso mais trabalhar tarde. Eu não posso mais trabalhar.' É, não... foi nessa época não... acho que eu ainda trabalhei um bom tempo enquanto a Luiza era bebê, tarde e noite, trabalhei sim... trabalhei durante um bom tempo, eu acho que até uns quatro, cinco aninhos dela [30'] eu trabalhei tarde e noite, porque eu tinha uma pessoa que trabalhava comigo, cuidava dela depois eu acho que com seis. Quando ela tava com seis aninhos ela ia estudar de manhã, ela ia estudar de manhã né, aí eu falei: ‘Olha, adoro o meu trabalho aqui na reitoria como secretária, mas infelizmente não da mais pra mim trabalhar a tarde e noite.' E falou: ‘Ó Neide, não tem jeito.' Porque aqui como a pró reitoria de graduação era a que mais pesava ele disse assim: ‘Não Neide, não tem jeito.' Eu falei: ‘Ah professor, então eu vou entrar com um pedido no RH assim que surgir algum setor que esteja precisando de alguém durante o dia eu vou pedir transferência e aí ele falou: ‘Não, não, vamos dar um jeito.' E daí foi criada a secretária acadêmica né. Então o que eu sempre gostei da USCS foi exatamente isso, desse respeito que eu adquiri né, de todas as pessoas que eu trabalhei, todos os chefes... respeitar assim o meu trabalho. Então eu acho que isso me fez muito bem né, e aí a gente vai amadurecendo.



Pergunta:
Neide, você viveu várias transformações dentro da... você viu a USCS se transformar né...

 

Resposta:
Vi...

 

Pergunta:
Aquela entidade que você chegou em 87 passou por várias transformações para chegar ao que nós temos hoje.

 

Resposta:
Isso.

 

Pergunta:
Assim como a Neide né, aquela menina que chegou aqui.

 

Resposta:
Do interior.

 

Pergunta:
Que teve várias transformações.

 

Resposta:
Isso.

 

Pergunta:
Você citou algumas delas né.

 

Resposta:
É.

 

Pergunta:
Eu queria que você fizesse um paralelo, falasse um pouquinho dos grandes destaques, quer dizer, o que você viveu na USCS que você pode destacar dessas transformações da instituição, desse crescimento que você acompanhou junto com esse amadurecimento que você teve.

 

Resposta:
É muito legal e muito lindo de se ver né, porque se eu olho pra trás na minha vida, que você está me fazendo eu fazer essa busca de memória, eu vejo uma vida linda né, com momentos difíceis, com momento fáceis, momentos de vitória, momento de quedas, mas que me fizeram ser o que eu sou hoje, e ao mesmo tempo o IMES, que era IMES, hoje, por exemplo, quando eu trabalhei como recepcionista, por exemplo, o Bassi que hoje é o reitor da instituição era aluno. Então imagine você, eu atendia o Bassi como aluno várias vezes, acabei tendo muita amizade com ele desde aquela época, porque ele era aluno, era monitor e hoje ele é o reitor a quem eu secretario né, e a quem eu assisto. Então eu acho isso muito legal porque a USCS tem exatamente isso, na história dela, tem a história das pessoas. Então a gente vê, por exemplo, assim você viu a pessoa jovem, você foi no casamento dela, você viu os filhos dela nascer, você foi visitar essas crianças, você foi nos aniversários dela, você almoçou com essa pessoa no refeitório, você foi em eventos representando a USCS, você vê a pessoa ser avó e outros, até bisa né. Então eu acho que essa história que entrelaçam as vidas né, porque isso é uma história de amor, e eu sempre digo, não é que eu sou puxa saco da instituição, eu respeito isso daqui porque, porque é exatamente isso, é uma história de vidas né, que entrelaçam porque a USCS tem muita vontade que dê certo e eu, por exemplo, que sempre trabalhei na diretoria da instituição, da diretoria hoje até a reitoria, eu pude ver com os meus próprios olhos que todo mundo, todos os dirigentes que sentaram ali, todos tinham muita vontade que essa instituição crescesse, que aumentasse o número de alunos, que os funcionários fossem bem administrados né, às vezes a gente acerta, às vezes a gente erra. Então assim, eu acho que a USCS o pessoal até fala, família USCS é porque isso mesmo, [35'] eu acho que as pessoas cresceram e eu cresci aqui dentro né. Eu cheguei aqui com 21 anos, hoje eu tenho cinquenta, então é uma história de vida, às vezes eu falo: ‘Gente, eu vou fazer ano que vem trinta anos, trinta anos é uma vida né.' E assim, tudo que eu tenho hoje, tudo que eu sou eu devo a USCS né. E eu acho que também a USCS me deve porque eu graças a Deus, eu sempre fui uma funcionária que procurei sempre fazer o meu trabalho né, sempre trabalhei muito, sempre vesti a camisa, e eu acho que quando você faz isso, você também acaba tendo um retorno. É a história de vida né, se você planta batata, provavelmente é a batata que você vai né, às vezes uma batata linda outras podres, mas é a batata não é cenoura né. Então eu acho que isso é muito legal né, a USCS tem quase a minha idade né, então eu acho que é uma transformação mesmo, você vê, dentro de uma instituição né, ou seja, o curso que eu tenho eu fiz aqui, os professores que eu tive na minha fase tão importante da faculdade foram daqui né, esse contato que eu tive com todos os dirigentes, professor Silvio, professor Marco Antônio, professor Moacir Rodrigues, hoje o Bassi né, e os pró-reitores, os gestores. Então você vê assim que não é um local que ninguém está nem aí com nada né, realmente se preocupam, aqui por exemplo, se a pessoa está doente numa empresa afasta ela, aqui não, existe uma preocupação, as pessoas visitam, as pessoas ligam né. A gente viu aqui há pouco tempo a um mês, que nós perdemos a Raquel, que a Raquel é a minha prima né, ou seja, a mãe dela é irmã da minha mãe, então é prima mesmo e nesse momento que ela esteve doente o quanto foi importante esse carinho do pessoal que trabalhava com ela, porque ela também já fez, havia feito vinte e cinco anos na USCS né, então é isso que é importante entendeu, porque a gente cresce, nós crescemos juntos com a instituição.

 

Pergunta:
Neide, como que é a sua rotina hoje na USCS, se é que tem uma rotina. Fala um pouco da sua função na sua universidade.

 

Resposta:
A minha função hoje, eu secretario o professor Bassi né, que é o reitor, então eu entro sete e trinta e seis, sete e quarenta, quinze pras oito, saiu a partir das dezessete né. O Bassi, ele é uma pessoa matutina, ou seja, ele gosta de chegar cedo, ele gosta de ir embora cedo, então isso também facilita muito pra mim né.

 

Pergunta:
Como é trabalhar né. Você disse que se trabalhou um pedacinho muito curto de tempo na contabilidade.

 

Resposta:
Trabalhei.

 

Pergunta:
Quase a maioria desse tempo na USCS foi como secretária da diretoria.

 

Resposta:
Não, eu trabalhei três meses na contabilidade lá, depois eu fui pra diretoria, trabalhei lá como recepcionista, depois eu fui para uma sala onde eu cuidava do jornal IMES notícias, cuidava da revista IMES, eu cuidava do núcleo de recursos humanos do CAD que era coordenadoria de apoio técnico didático, que cuidava da limpeza, segurança, manutenção, então todas as coordenadorias na época que eram criadas era eu que cuidava, e depois foram colocando outros funcionários. A ______ trabalhou comigo, a Lurdes _______, a Elizete. E aí, quando foi em 2006, nós estávamos com um problema sério no CEAPOG, que era o centro de pós-graduação que hoje a gente só fala em lato sensu né, que era o pós-graduação. Nós estávamos com um problema sério lá, abriu-se uma sindicância, e na época o Silton era o gestor do curso, ainda é gestor do latu sensu e o professor Silvio, minto, o professor Laércio era o reitor e me convidou, [40'] ele falou: ‘Ó Neide, será que você não poderia ir lá pro pós dar uma organizada lá na secretária.' Aí pensei, falei: ‘Ah...' Como eu gosto de novos desafios eu aceitei né. Aí eu fui pro pós graduação, lá com o Silton, fiquei lá até 2013 né. Então 2007 eu fui, fiquei lá até 2013 quando o Bassi assumiu, e o Bassi pediu para que eu fosse secretaria-lo, e a Débora foi para o meu lugar no pós graduação. Então essa foi única vez assim nesse período que eu saí da reitoria, mas eu trabalhava né, como secretária dos pró reitores na diretoria, sempre fiquei naquele ambiente.

 

Pergunta:
E como que é, fala um pouquinho de como é trabalhar assim tão próximo da direção, ter essa relação com o poder institucional da universidade. Quais são os prós, quais são os contras...

 

Resposta:
Eu acho assim, o fato de você trabalhar bem próximo do poder, eu acho assim que primeiro você tem que ter serenidade, porque às vezes nem tudo o que os gestores, o diretor, o reitor, os pró-reitores falam naquele ambiente significa alguma coisa, às vezes é só um desabafo né, e também tem muitas decisões de responsabilidade. Eu acho assim, que a sua responsabilidade, o seu saber ouvir mais e falar menos é muito importante porque todas as decisões são tomadas lá, então se de repente você comenta alguma coisa por mais que você confie em alguém, isso não é legal. Eu acho assim que a gente tem que ter esse senso de responsabilidade de mais ouvir do que falar né, e aquela questão, quando mais próximo você está do poder, mais exemplo você tem que dar né, então eu acho que a exigência é bem maior.

 

Pergunta:
Você vai completar trinta anos né, na direção.

 

Resposta:
No ano que vem.

 

Pergunta:
No ano que vem. Queria que você também refletisse um pouquinho e buscasse na lembrança algum momento que você acha importante destacar, uma curiosidade, um acontecimento, o que você... o que te vem a memória dessa sua trajetória de quase trinta anos na instituição.

 

Resposta:
Olha, é... são várias memórias, mas a época que eu me diverti, mais assim, diverti assim porque eu digo assim mãe é um bixo sem noção né, então como secretária das prós-reitorias, e eu assessorava muito o pró-reitor de graduação na época, era os relatos porque no primeiro ano que os alunos estão na faculdade as mães ainda tem, não é só os alunos, os pais também acham que eles ainda estão no colégio porque eles pagam a faculdade, então eles tem direito e tem a lei né, o aluno de maior ele não pode, você não pode passar as informações da vida dele mesmo que o pai, a mãe, avó pague a faculdade se ele entrar com um processo contra a universidade ele ganha porque não pode. Então eu me divertia muito assim, porque houvesse uma época lá que na pró reitoria de graduação que a gente atendia as mais diversas ligações né, então eu me divertia muito na graduação porque uma vez uma mãe me ligou e falou assim: ‘Boa noite, por favor você pode ver se a minha filha está na classe,' Eu: ‘Como?' Aí ela falou o nome completo lá da filha, e eu não me lembro o nome dela, e mesmo se eu lembrasse não poderia falar, e ela disse assim: ‘Sabe o que acontece, a minha filha, ela ultimamente anda mentindo muito pra mim e ela nunca foi assim, mas ela começou a estudar aí. Ela arrumou um namorado, daí eu acho que ela está mentindo muito pra mim.' Eu falei: ‘Olha, eu entendo. [45'] Ela falou: ‘Você é mãe?' Eu falei: ‘Eu sou. Eu sou mãe, mas a gente não pode. Eu não posso, nós temos muitos alunos aqui, nós temos muitos alunos. A senhora imagina se todas as mães que começar a me ligar pra mim, sair da minha mesa e ir lá na sala. Eu não posso fazer isso.' E aí acabei ficando sensibilizada com a situação dela porque ela falou que a filha dela era um anjo _________________ de repente a filha mudou, eu falei: ‘Olha, mas é a idade. A senhora conversa com ela em casa: ‘Ah, eu já conversei. Por favor, estou te pedindo, por favor. Você só vê pra mim se ela está lá dentro. Você pergunta pro professor, fala o nome dela, se ela está lá, só isso. Aí eu falei: ‘Não, a senhora conversa com ela. Quantos anos ela tem?' ‘Ah, ela tem vinte e sete.' Então eram casos assim sabe, de alunos que davam trabalho em casa, que as mães iam, então eu me divertia muito com isso né, ou seja, os alunos saem do colégio e a gente tem a mania de dizer, o aluno ainda pensa que está no colégio né, só que na verdade existe toda uma estrutura por isso né. Então eu me divertia muito nessa fase.

 

Pergunta:
Quando a gente fala de evolução, a evolução tecnológica é algo que vem muito a mente né.

 

Resposta:
Com certeza.

 

Pergunta:
Eu por exemplo me pergunto: o banco, como que o banco trabalhava antes de ter a informatização. Como você ia lá pra ver o seu saldo. Como que isso acontecia...

 

Resposta:
Nossa, essa parte tecnológica é muito interessante né, porque eu lembro o dia que instalou o primeiro fax na diretoria, gente...

 

Pergunta:
Relatos que eu gostaria que você...

 

Resposta:
Aquilo pra gente era um avanço e tanto né, porque imagina, você colocava a carta aqui e a pessoa recebia do outro lado, então era uma coisa assim e outra, só tinha uma instituição e na diretoria, então todo mundo que precisasse tinha que usar lá. Existia um caderno, pra onde a gente mandava o fax, qual era a cidade, quantas páginas e depois colocaram os computadores. Aí nós tínhamos funcionários carregados mesmos na instituição que proibiram seus funcionários de usarem computador, porque computador era coisa de outro mundo né, mas é muito interessante. Hoje eu brinco, o Bassi foi viajar e ele quando chegou na porta da reitoria eu disse pra ele assim: ‘Bassi...' Ele virou pra trás e falei: ‘Por favor, não me desligue o whatssap.' ‘Sim senhora.' Porque tem algum documento que eu quero que ele olho, se eu posso dar encaminhamento, eu fotografo o documento pelo whatssap e ele olha, autoriza, então é muita facilidade. Então você vê, eu sou da época que não tinha um fax, então quando a gente teve o fax que foi o primeiro fax instalado na diretoria né, o reto projetor. Imagina, a gente fazia aquelas transparências no PowerPoint ou pintava, desenhava as transparências pra que os professores apresentassem às reuniões na sala de aula, imagina. A gente datilografava, depois instalaram na diretoria às máquinas de datilografia que a gente trocava margarida, era pra trocar a fonte, ela tinha uma outra tecla, tinha um corretivo, ou seja, se você errava podia apagar, só tinha também na diretoria, então você vê o avanço né. E você naquele movimento, e cresce em todos os sentidos e você vê o aluno que você foi não é o aluno que está em sala de aula né. É outro aluno. É outra tecnologia. É outra geração. Eu acho que isso é muito legal. É muito assim enriquecedor.

 

Pergunta:
Você consegue... falando do aluno né. Você consegue traçar o paralelo ou uma diferença entre aquele aluno que a USCS tinha lá quando você entrou nos anos oitenta, comecinho dos anos noventa e o de hoje, e o professor da universidade, quer dizer, é desses dois públicos é o mesmo, são as mesmas... os mesmos anseios, as mesmas tarefas ou não da pra traçar uma diferença. [50'].

 

Resposta:
Ah, eu acho que mudou tudo. Eu acho que mudou desde a época que você prestava vestibular né. Hoje em dia eu costumo dizer: ‘Gente, a pessoa só fica sem fazer uma faculdade ou universidade se ela não quiser.' Porque nós temos instituições, passar na frente, ele já entrou. Ele paga uma mensalidade lá, ele vai duas vezes por semana. Ele tem um curso de graduação, isso é fato né. Por exemplo, na época que eu prestei administração, eu lembro que nós, a relação de candidato vago era dois, dois ponto um por vaga né. Outro dia estava até comentando com o Ruiz que hoje é o pró-reitor administrativo e financeiro, que foi meu professor e ele estava dizendo: ‘Neide, como mudou né. Como mudou, porque nós tínhamos aquela sala imensa. Nós tínhamos aula... na época que eu estudei tinha o período vespertino e tinha período noturno, e nós tínhamos aula de sábado, então quem ficava de dependência, sábado passava o dia na faculdade, porque fazia dependência de horário inverso no sábado e, por exemplo, como eu estudava a noite, minha aula era da uma às cinco, no sábado à tarde. Imagina, você tendo quatro aulas de estatística num sábado à tarde. A gente ficava né. Se você perdia uma aula, se tinha, pegava o caderno do amigo ia lá, tirava uma xerox. Hoje o que o pessoal faz? Fotografa né, manda pro grupo e todo mundo tem o material.

 

Pergunta:
A gente já está partindo aí pro final. Eu queria que você falasse, como que você definiria a USCS... hoje.

 

Resposta:
Hoje? Bom, eu sou apaixonada por isso daqui né, eu acho que é uma instituição diferenciada. Diferenciada nisso mesmo, ciente de suas deficiências e com muita vontade de melhorar, muita vontade de fazer com que as coisas deem certo. Eu acho que esse é o diferencial do IMES que eu conheci pra essa universidade que eu estou aqui né. Então eu falo isso com muita propriedade, porque eu entrei como auxiliar administrativa em 1987, uma menininha de vinte e um anos. Hoje, eu tenho cinquenta anos. Eu sou secretária do reitor, quer dizer, estou secretária do reitor né, porque não sei se amanhã estarei em outro setor ou não, mas hoje estou como secretária do reitor. Convivi muito com as tomadas de decisões, sempre estive muito próximo, fui aluna, funcionária e convivi muito aqui dentro, então eu acho assim, que eu sinto muito. Isso eu acho assim, que a USCS vai crescer muito ainda, tem muito que crescer, muito que melhorar né, mas eu acho uma instituição diferenciada.

 

Pergunta:
Você citou a questão do fax né. Tem algum fato, alguma questão que ocorreu nessa trajetória que te impressionou pra você pegar e falar assim: ‘Poxa, realmente essa universidade está crescendo.' ‘Olha, realmente é muito bacana estar aqui.' Tem algum momento desse que você possa trazer.

 

Resposta:
Relatar?

 

Pergunta:
Como: ‘Olha, esse momento me marcou aqui dentro...'

 

Resposta:
Eu acho que foi mesmo a primeira vez ter visto uma folha sair daquele aparelho, achar falei ‘Nossa gente, que coisa maravilhosa né. O celular...' Imagina, eu acho que o primeiro a ter aquele celular, não sei se era o Marco Antônio ou Moacir, a gente olhava assim... falava, porque poucos tinham né, a tecnologia tomando conta da gente.

 

Pergunta:
Neide tem algo mais que você gostaria de destacar, que você gostaria de deixar na memória, nesse projeto que busca homenagear aí os cinquenta anos da instituição.

 

Resposta:
Então, eu acho que é exatamente isso de dizer assim, que eu gosto muito dessa instituição USCS né. Gosto muito das pessoas que aqui estão, [55'] não sei quantos anos ainda tenho aqui, mas que é muito bom ver essa instituição crescer né. Nós tínhamos lá no IMES pouquíssimos alunos né, pessoas que foram entrando, agregando, outras saindo, porque eu acho que é exatamente isso, quem tem que ficar fica, quem tem que fazer parte da história vai fazer né. Então eu desejo que a USCS, ela viva e continue crescendo por muitos e muitos anos formando muitos profissionais, oferecendo tantos serviços à comunidade e que seus dirigentes tenham exatamente essa vontade de melhorar né. Não é dizer assim: ‘Ó, a USCS é perfeita... nós não...' mesmo porque a gente chega nessa fase de dizer: ‘Eu estou ótimo.' Mas é porque você parou em tudo. Então eu acho que desejo aí que a USCS viva por mais cinquenta, cem, duzentos, trezentos anos, formando profissionais. A minha filha, por exemplo, está na época de prestar vestibular, ela não quer estudar aqui porque o mundo dela, ela é uma arteira eu costumo dizer né, mas ela mesmo assim ela tem amor pela USCS né, então eu acho isso muito legal. E a gente percebe que esse bixinho morde muita gente né. Se percebe... a gente vê, por exemplo, alunos que são alunos, se tornaram monitores, se tornaram colaboradores, se tornaram professores, fizeram mestrado, doutorado que voltam pra sala de aula e assim essa multiplicação. Eu gosto muito da USCS, sempre gostei. Eu costumo dizer: ‘Se eu não gostasse, três meses eu pedia demissão.' E eu pediria novamente. Eu jamais me permitiria ou iria me agredir, estar em algum lugar com alguém que não me fizesse feliz. Então é isso aí.

 

Pergunta:
Neide, muito obrigado.

 

Resposta:
Nada.

 

Pergunta:
Parabéns mesmo.

 

 

Lista de siglas presentes no depoimento:
CAD - Coordenadoria de Apoio Técnico Didático.
CEAPOG - Centro de Estudos e Aperfeiçoamento de Pós-Graduação.
IMES - Instituto Municipal de Ensino Superior.
LEFEM - Legião Feminina de Marília.
RH - Recursos Humanos.
USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul.


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul